Com o apoio nas cópias, lançávamos uma edição do Boletim por semana e zoávamos dizendo que era semanal como a revista VEJA. Era só por brincadeira, não leio nem gosto da VEJA, tão elitista e cheia de preconceitos.
Por volta do número 40, o Magu parou de fazer o Boletim do Kaos comigo e segui sozinho na missão. Também fiquei sem o apoio das cópias um tempo, mas, depois, arrumei um esquema de xerox grátis na Secretaria Estadual de Cultura.
Lá fazia até três números do Boletim do Kaos por vez e, por onde passava, entregava um exemplar, inclusive na DGT Filmes, onde hoje trabalho fazendo o “Buzão”, meu quadro na TV Cultura. Vê como uma coisa puxa a outra e tudo se cruza?
Fiz uma edição especial (com mais páginas) do número 100 e, até a edição de número 130, tudo saiu pela Secretaria Estadual de Cultura. Um dia, contudo, a fonte secou e voltei a publicar esporadicamente, bancando o xerox do meu bolso, e, aos trancos e barrancos, cheguei à incrível marca do número 150, recorde em matéria de fanzine, sem modéstia. Mas resolvi dar um tempo (tenho um de cada, dos 150 exemplares, em minha casa). O tempo foi passando e muita gente na rua me perguntava: “Cadê o Kaos?”; “Cadê a revistinha?”; “Cadê o jornalzinho?”.Não importava o nome com que o chamavam, o fato era que as pessoas queriam ler e ver oBoletim do Kaos outra vez.
Nesse meio tempo, virei repórter da revista Rap Brasil, fazendo matérias até em outros Estados, como Acre e Goiás.
Vivia “pilhando” o editor da revista, o Alexandre de Maio, para fazer uma capa com escritores da periferia, sempre com a pergunta: “E a literatura marginal, quinto elemento do hip-hop?”. Mas ele sempre me enrolava, dizia que era complicado, que a revista era de rap e tal.
De tanto falar, um dia fez a proposta: “Vamos fazer uma revista de literatura, a gente faz o boneco e apresenta para a editora; se ela topar, eu lanço”. Eu entraria como repórter, faria a maioria das reportagens.
Naquela época, recebia muito pouco vendendo alimentos, e a possibilidade de ganhar pouco mais de R$ 1.000,00 me motivou muito. Assim fui escrevendo, entrevistei os escritores Sérgio Vaz, Ferréz, Sacolinha, Lourenço Mutarelli e a cineasta Tata Amaral, entre outros.
Fizemos o boneco da revista LITERARUA, mas, para nossa decepção, a editora considerou-a moderna demais e não topou botar nas bancas.
A ideia e as matérias ficaram engavetadas, até que o Alexandre sugeriu, certa vez: “A gente podia lançar a LITERARUA como jornal, tem coragem de correr atrás de anunciantes?”.
Fiz um corre e não descolei nada, vimos que, bancada por anúncios, nunca teríamos nem revista, nem jornal. Então eu disse: “A gente precisa de alguém que pague a gráfica, para lançarmos sem depender de anunciantes”.
Não deu outra: logo no primeiro contato que fiz, com o Itaú Cultural, surgiu a chance de, numa reunião, expor nossa ideia e tentar patrocínio para a gráfica. Deu certo. Eles apoiaram, mas avisaram: “Vamos bancar três meses para ver como será e, se vingar, a gente renova”.
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